Novos líderes procuram fortalecer laço de amizade

Nível de intimidade entre gestor e funcionário pode comprometer ascensão

 

São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011

Scher Soares, 36, e Carolina Manciola, 30, conheceram-se em São Paulo e descobriram semelhanças: haviam nascido em Salvador (BA) e tinham amigos em comum.

Logo os laços de amizade migraram para o âmbito profissional. Ele, diretor-geral do Grupo Triunfo, convidou-a para ser gerente de uma das empresas da corporação.

“Mesmo que haja, e houve, momentos de ‘feedbacks’ mais duros, a relação de amizade entre nós cria mais espaço para confiança [profissional]”, afirma Soares.

Com a entrada da geração Y nos pontos mais altos da hierarquia, a relação entre profissionais e gestores mudou, avaliam consultores. Nas décadas de 1980 e 1990, a figura do chefe trancado em uma sala impunha respeito e distanciava colaboradores. “As pessoas tinham receio de ter relacionamento mais próximo”, avalia Alexandre Attauah, gerente da Robert Half, de recrutamento. Agora, diz, “a liderança acredita que é bom para o andamento do trabalho saber se o funcionário está bem ou não”.

 

TÃO PERTO

Contudo, essa proximidade pode confundir e prejudicar a carreira de quem prefere manter certa distância, diz Attauah. Foi o que ocorreu com o analista de sistemas Christiano Rodrigues, 33.

Quando atuava em uma empresa de telecomunicações, Rodrigues aproveitou uma seleção interna para mudar de setor. A responsável pela área “facilitou” a entrada porque eram amigos, diz.

Mas a atenção excessiva da líder o incomodava. “No começo, eu tentava ser transparente, depois, passei a ser rude”, conta ele, acrescentando que perderam contato.

Para Lígia Marques, consultora e autora do livro “Etiqueta 3.0” (ed. Évora), as empresas buscam cada vez mais entender a intimidade dos profissionais. “O modo como me relaciono na vida pessoal pode refletir em como me comporto lá dentro [da companhia]”, afirma ela. Estabelecer o limite da amizade no trabalho depende dos reflexos que a relação tem no ambiente profissional, segundo especialistas consultados pela Folha.

“Conforme o grau de maturidade do funcionário e do líder, a amizade pode afetar negativamente”, afirma Margot Nick, gerente da Kienbaum Brasil, de consultoria.

O profissional pode achar que não precisa alcançar tantos resultados como os demais, e o líder pode não conseguir fazer cobranças efetivas ou avaliações assertivas.

“Quando você se envolve, é mais difícil tomar decisão”, avalia Renata Mello, consultora de imagem corporativa. Para Soares, a amizade com Manciola não prejudica o trabalho. Na visão dela, porém, o relacionamento fez o reconhecimento demorar para chegar. Ao apresentar resultados, diz ser mais cobrada que os demais. “Às vezes, é difícil até pedir aumento.”