São Paulo, 7 de Fevereiro de 2008 – Em uma comemoração de amigo oculto da Natura, um funcionário fez a deselegância de presentear o colega portador de mau hálito com um vidro de enxaguatório bucal. A brincadeira “inocente” criou uma saia justa na empresa. Para que atitudes assim não voltassem a acontecer, a Natura contratou Renata Mello, economista e consultora de imagem corporativa que, há cinco anos, oferece palestras e cursos corporativos sobre etiqueta básica. Ela desenvolve temas como aparência pessoal; guarda-roupa e comportamento empresarial, para que a elegância reine entre as pessoas que precisam conviver – querendo ou não – diariamente debaixo do mesmo teto.
Nos últimos anos, Renata viu crescer seu portfólio. Entre seus clientes estão, além da Natura, o Banco Real e o Citibank. Ela está ainda em negociações com a Colgate-Palmolive e a TAM, que devem contratar seus serviços em breve. São nestas empresas, e em outras menores, que Renata vê atitudes de “arrepiar os cabelos”, como ela mesma conta, como por exemplo, recepcionistas lixando as unhas, arrumando a meia-calça, etc.
Ela conta que seu insight em criar a consultoria ocorreu em uma época em que, ela própria, era funcionária de uma grande companhia. “Trabalhei na Unilever e, às vezes, via funcionários deixando o posto de trabalho para dançar em pleno expediente”, conta. “Percebia também que erravam muito quando o assunto era essa moda do casual day. Algumas mulheres usam miniblusa e acham que sexta-feira já é sábado na hora de se vestir”, diz.
A partir de então ela pensou em um programa de palestras que abordasse temas tabus que RHs de algumas empresas não conseguem expor aos funcionários, entre os quais, o mau hálito. “O serviço que ofereço acabou sendo uma alternativa interessante, pois corrige problemas do dia-a-dia que transcendem questões ligadas à meta e capacidade técnica. Tem a ver com relacionamentos e posturas, normalmente”, esclarece.
“Telefonistas, recepcionistas, secretárias, gerentes e diretores devem saber que seu comportamento também reflete a imagem da empresa para o mercado”, diz Renata, que concede cursos e palestras para as diversas hierarquias dentro de uma corporação. Ela trabalha com temas como ética profissional, comportamento dentro e fora do mundo corporativo, postura adequada em diferentes ocasiões, amizade versus conduta profissional, até guarda-roupa e maquiagem. “Afinal, a imagem de uma corporação é formada e transmitida através da postura e das atitudes dos seus colaboradores, não apenas da especialização que cada talento tem para o sucesso dos negócios da empresa.”
A Natura, empresa que contratou os serviços de Renata para um projeto piloto que envolvia cursos de boas maneiras entre 650 mil consultoras, diz, por meio de sua gerência de projetos, que está feliz com os resultados das palestras. “A didática da Retana é muito boa. Sua abordagem de temas tabus é bem delicada”, diz uma funcionária da empresa.
Fátima Motta, professora de Gestão Pessoal dos cursos de graduação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e sócia-diretora da FM Consultores, diz que apesar de ter se tornado tendência contratar profissionais como Renata nas grandes corporações, este tipo de serviço pode fragmentar os funcionários das empresas. Ela explica: “Pode ficar falso impor a adultos o que é a elegância. O problema é mais profundo e não pode ser resolvido em cursos de etiquetas. Uma pessoa que está acostumada a fofocar com o colega no banheiro, não vai deixar de fazê-lo apenas por que fez um curso rápido de boas maneiras”, alfineta a professora.
“Não acho justo que haja programas de etiqueta para transformação de uma pessoa. Aliás, ninguém é transformado de uma hora para outra. O que pode haver é uma pessoa seguir uma determinada linha de conduta e acabar criando uma personalidade dupla na empresa, o que é pior do que a deselegância”, completa.
Ela observa que a seleção de funcionários é um ponto fundamental que o RH de uma empresa deve observar para que uma empresa viva em harmonia. “Isso é fundamental para que a empresa perceba se o futuro funcionário se adequa ao ambiente de trabalho, ao posto que vai ocupar”, diz. Ela observa que, para isso, deva haver questionários minuciosos no momento da contratação. “Assim, a empresa não vai cair na armadilha de chamar alguém que tenha valores opostos aos seus.” No mais, ela dá a dica: “O grande X da questão é que, em um ambiente onde um grupo de pessoas convive grande parte das horas do dia, o fator primordial é que haja respeito e educação”, finaliza.
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