Como se desligar de uma empresa amigavelmente e deixar boas lembranças
quinta-feira, 24 de junho de 2010
por Arthur Chioramital
O momento em que um colaborador decide se desligar de uma empresa é bastante delicado. Independentemente das razões que o levaram a tomar essa decisão é sempre importante tomar cuidado com a forma que essa ruptura vai ocorrer. Agir da maneira adequada nesses últimos instantes é fundamental quando se pretende deixar uma boa impressão na equipe que fica e, consequentemente, as portas abertas para futuras parcerias.
As dúvidas com relação a esse processo começam muito antes do desligamento em si. O início da busca por uma nova colocação já é motivo de aflição. Afinal, até que ponto é recomendável revelar para a chefia as intenções de deixar a empresa? De acordo com a consultora de imagem corporativa Renata Mello, abrir o jogo é o caminho ideal, mas tudo depende da relação que existe entre o colaborador e seu gestor. “O profissional transparente tem mais credibilidade sempre; no entanto, quando o relacionamento com os gestores não é bom, dizer a verdade pode não ser recomendável, uma vez que a chefia pode tentar prejudicar o colaborador que pensa em mudar de emprego.”
Uma conversa franca com o superior direto ou com o Departamento de Recursos Humanos, quando o superior não é acessível, pode ser uma boa forma de começar a desatar esse nó que, muitas vezes, é fruto apenas de falha na comunicação. “Quando o motivo do desligamento é falta de motivação ou descontentamento com a posição ocupada é válido conversar sobre o assunto, admitir a infelicidade e o desejo de crescer profissionalmente e ver se a companhia tem algo a oferecer para melhorar esse quadro; muitas vezes é possível resolver o problema internamente”, afirma Renata.
Uma vez tomada a decisão definitiva de partir em busca de outra colocação e deixar a companhia, é preciso pensar em como fazê-lo da melhor forma possível, garantindo o mínimo de dano tanto para empregados quanto para empregadores. Mais uma vez o ideal é ser honesto com o gestor, desde que a relação entre as partes permita isso. “Falar facilita as coisas, abrir o jogo permite um acordo entre o colaborador e o gestor do tipo: Eu lhe dou um tempo para arrumar outro emprego e você me dá um tempo para encontrar um substituto para você”, diz a gerente Corporativa de Recursos Humanos da Vicunha Têxtil, Alda Kuznecov.
Desligamento low profile
Conquistada a nova vaga em outra companhia, começa o processo de desligamento. Nessas horas, quanto menos informação sobre a nova empresa o colaborador passar para a antiga equipe melhor. “O ideal é uma saída low profile, sem dar muitos detalhes, já que ficar se gabando pode magoar as pessoas que ficam”, explica Alda. “Eu já presenciei o caso de um executivo que conseguiu uma colocação mais interessante e fez questão de que todos soubessem que ele ganharia um salário 30% maior e teria direito a uma cesta de benefícios melhor e o resultado foi que a equipe toda passou a vê-lo como um sujeito arrogante e pouco profissional; em um único dia ele arruinou a reputação construída ao longo de anos de trabalho”, exemplifica Alda.
Na hora de justificar a decisão pela mudança é importante ser direto e racional, desavenças pessoais devem ficar de fora do discurso de despedida. “Vale dizer que a proposta recebida vai ao encontro do plano de carreira traçado pelo profissional, que existe a vontade de conhecer novos mercados e lidar com novos desafios; só não vale falar mal do gestor, por mais que essa tenha sido a principal razão da mudança, o mercado é pequeno e há grandes chances de cruzar com ele de novo”, declara Renata, que completa: “nos casos em que a motivação for financeira, cabe dizer que a proposta recebida foi vantajosa em vários aspectos, mas a contraproposta tem que partir da própria empresa; leiloar a si mesmo pega muito mal.”
Uma vez comunicado o desligamento, é hora de acertar os termos em que ele ocorrerá. Questões como quanto tempo o colaborador ainda permanecerá na empresa, quem vai substituí-lo e para quem ele deve passar as informações e projetos nos quais está envolvido devem ser acertados nessa hora. O ideal é cumprir os 30 dias de aviso prévio, mas nem sempre é possível. O importante é ficar tempo suficiente para resolver as pendências.
Segundo Renata a atitude em relação à pessoa que vai substituí-lo também conta pontos. “É importante continuar comprometido e agir de forma ética a fim de facilitar a vida de quem fica no seu lugar, ou seja, esconder informações e deletar e-mails e arquivos estão fora de cogitação.”
Finalizadas as pendências, é hora de deixar o antigo cargo e partir para os novos desafios que se apresentam com a consciência de ter feito o melhor trabalho possível e deixado uma boa impressão entre gestores e colegas